Por Sharlene Serra
Em 04 de novembro de 2020 estive no FACETUBES, estávamos em tempos de campanhas eleitorais, o assunto era os fogos de artifícios e o autismo...
Hoje retornamos para relatar que o feliz ano novo veio acompanhado de estrondos no céu, 2021 chegou para muitas famílias através de dores, crises, medos, irritabilidade e lágrimas.
Os pedidos por muitas mães, feitos a Papai Noel, para que a virada de ano fosse silenciosa, não chegaram, ou se chegaram foram ignorados, talvez quem recebeu tais pedidos , precisava se permitir sentir a dor do outro, para que assim, compreendesse que tais fogos nada servem e o brilho silencioso falaria muito mais.
Ocorreu uma campanha em São Luís do Maranhão, através de Poliana Gatinho, mãe do João, que está dentro do espectro, onde ela apresentou nas redes sociais as crises do filho ocasionadas pela queima de fogos, isso durante o período eleitoral. Poliana, uma mãe que através das suas vivências mostra a intimidade com o autismo, para que tenhamos mais informações sobre o assunto, se coloca como porta-voz de muitas mães que também sofrem com os fogos e os descasos. Mesmo com todas as promessas, os fogos não silenciaram, vieram feito metralhadora devastando lares, sem o mínimo de respeito, e nada adiantou as reuniões, as vozes das mães, as lágrimas, súplicas, os bebês, as crianças com e sem deficiência, nossos idosos e nossos pets, todos ignorados. Cadê o respeito anunciado nas campanhas? Quando que realmente iremos acreditar em promessas que apenas são fachadas de respeito?
É inaceitável total descaso! Li vários relatos de mães, quantas lágrimas foram derramadas, as chuvas que apareceram, foram lágrimas de mães espalhadas por todo Brasil, pois os fogos não silenciaram, muitas crianças entraram em ataques convulsivos ocasionadas por crises sensoriais, os pais não tiveram tempo para brindar o novo ano ou sentir esperança por dias melhores, o desgaste emocional fez companhia e nós, o que fazemos? Não podemos cruzar os braços, nem calar nossa voz, ou olharmos para o céu e achar lindo o espetáculo, sem pensar um instante nesta dor, nesta mãe, família, e vem a pergunta: e se fossem nossos filhos, nossos idosos e nossos pets? [Se a dor, o sofrimento, do outro não nos incomoda, precisamos nos avaliar como ser humano.]
A criança com autismo possui hipersensibilidade sensorial é como se ela ouvisse todos os sons do ambiente de uma só vez, sem focar a atenção em nenhum deles, provocando uma sobrecarga daquele sentido. O barulho vindo de uma sequência de fogos é devastador, desorganiza, promove a criança um total descontrole gerando ataques convulsivos.
E diante do que li e vi, através principalmente da mãe Poliana Gatinho, e por ter acompanhado seu posicionamento para que houvesse uma lei anti-fogos estatual, por respeito a condição do seu filho e de todas as crianças, bebês, idosos e nossos pets, propago este desabafo, pois me coloco aqui como alguém que senti a dor de uma mãe, de repente a ressonância deste texto chegue como um grito para que o poder público abrace a causa, entenda que é necessário também uma lei federal anti-fogos.
Não podemos ignorar sofrimentos, noites mal dormidas, famílias sem saber como controlar as crises de seus filhos, ataques convulsivos e falta de atendimento em hospitais, que possamos entender que apoio é o mínimo a ser retribuído, que neste início de ano nos tornemos seres HUMANOS melhores, não aqueles que assistem e filmam sofrimentos como se fossem espetáculos para aumentar likes em rede social, mas que possamos ser atuantes e propagadores do respeito, da empatia, amor e consequentemente da inclusão. Este sentimento não precisa silenciar, mas os fogos, sim!
Que nos campeonatos de futebol e nas festividades que virão, não exista mais esta forma de comemorar, e assim o nosso texto irá mudar, e em vez de sofrimento e lágrimas das mães, eu possa escrever sobre conquistas e sorrisos delas, que confesso, exalam garra, e muito amor.
2021 de respeito, amor, empatia e inclusão.
Fonte: Facetubes